Com a riqueza da cana-de-assucar, vivemos na moda pernambucana um apogeu que nós levou ao requinte de termos artesãs [primórdios de estilistas] a se especializarem em trajes para funeral e luto.
De certo que esta especialização não findava unicamente no tingimento das peças dos armários das famílias na cor preta, ou o fechamento dos decotes e desabanhar da saias para o alongamento dos seus comprimentos. Esse luto vivido por senhoras e senhores de engenho estava repleto de um requinte de detalhes, tecidos e jóias que posicionavam seus usuários na classe a que estes pertenciam.
Séculos mais tarde, e já não movido pelo ouro branco dos casarões e senzalas, tive o grande prazer de ver esse requinte do luxo do luto pela ótica do grande fotógrafo Renato Filho. Em seu último trabalho, Calendário 2011, o tema LUTO vem associado a sofisticação e mistério que poucos artistas conseguem dar a morte. Belas mulheres, em sua maioria trajando preto, constroem um imaginário dos meses de lembranças e sedução, perda e ganhos; sem desespero e com muito glamour.
Mortes que valem ser choradas pelo seu luxo.
Passando meus olhos pelo trabalho, fico a pensar o que se passou pela cabeça de RF, como carinhosamente os mais próximo lhe chamam, ao construir estes personagens. Na minha imaginação fértil, já reconstruí viúvas dignas e amantes deliciosamente indignas a chorar por seus finados. Ou ainda virgens que a morte leva e depois chora com pena, como já cantava Lia na Ilha de Itamaracá.
O trabalho está tão bom que até dá pra sentir, para os mais sensíveis ou fantasiosos, o doce chêro das angélicas e cravos tão comuns em nossos velórios e jazigos.
Assim, contrariando o tema do criador, desejo vida longa ao talentoso RF.
Saúde amigo,
Eduardo Maciel.
p.s.: para poucos, este catálogo pode ser apreciado em escritórios de design, agências de publicidade, lojas de moda ou no site do fotógrafo.
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